Sunday, March 18, 2007
A sagração da Primavera








Tinha escrito qualquer coisa sobre flores, sobre esta Primavera em explosão que chegou mais cedo. Tinha escrito sobre o passeio em Sintra, sobre o canto dos pássaros, o zumbido dos insectos, o cheiro doce das tílias, das glícinias e do jasmim. Tinha escrito também sobre o som que no meio de um campo onde pastavam ovelhas e burros se elevava acima de todos os outros: o som de um rádio a transmitir a missa, a sagração da primavera nesta manhã de sol quente...e veio o deus que rege estes canais e deitou tudo a perder. Quando voltei a ligar o computador achei que todas as palavras eram inúteis, que havia imagens e mesmo que não houvesse sons, as imagens serviam para ilustrar o dia. E apeteceu-me falar de coesão. De qualquer coisa que falta nos tempos de hoje. Estamos todos ligados, somos uma qualquer teia virtual, mas a coesão, aquela harmonia que liga uns aos outros nem sempre é perceptível de perto. Andamos apregoando os mesmo interesses mas longe de estar coesos. A harmonia não se rege no longe. A aderência a um sistema coeso é o primeiro passo da harmonia. Qual a razão então para andarmos todos harmoniosamente sós? Tentemos a harmonia no conjunto, na coesão. Como as flores, que desatam a florir frenéticas, sem pensar na concorrência. Coesas lançam aromas para os ares, que deixam as abelhas loucas, e conseguem enfim o milagre da reprodução.