<$BlogRSDUrl$>

Wednesday, March 21, 2007

O gesto

Esta é a Primavera do Mundo
Estes são dos dias eternos
Sonhemos o amor

Sunday, March 18, 2007

A sagração da Primavera
















Tinha escrito qualquer coisa sobre flores, sobre esta Primavera em explosão que chegou mais cedo. Tinha escrito sobre o passeio em Sintra, sobre o canto dos pássaros, o zumbido dos insectos, o cheiro doce das tílias, das glícinias e do jasmim. Tinha escrito também sobre o som que no meio de um campo onde pastavam ovelhas e burros se elevava acima de todos os outros: o som de um rádio a transmitir a missa, a sagração da primavera nesta manhã de sol quente...e veio o deus que rege estes canais e deitou tudo a perder. Quando voltei a ligar o computador achei que todas as palavras eram inúteis, que havia imagens e mesmo que não houvesse sons, as imagens serviam para ilustrar o dia. E apeteceu-me falar de coesão. De qualquer coisa que falta nos tempos de hoje. Estamos todos ligados, somos uma qualquer teia virtual, mas a coesão, aquela harmonia que liga uns aos outros nem sempre é perceptível de perto. Andamos apregoando os mesmo interesses mas longe de estar coesos. A harmonia não se rege no longe. A aderência a um sistema coeso é o primeiro passo da harmonia. Qual a razão então para andarmos todos harmoniosamente sós? Tentemos a harmonia no conjunto, na coesão. Como as flores, que desatam a florir frenéticas, sem pensar na concorrência. Coesas lançam aromas para os ares, que deixam as abelhas loucas, e conseguem enfim o milagre da reprodução.







Tuesday, March 13, 2007

A vontade


Vou ensimesmar-me um pouco para pensar na minha vontade. Tenho passado tanto tempo a fazer a vontade dos outros se já não sei se esta vontade que me habita é minha ou emprestada. Alguns dos significados de vontade são: intenção; ânimo; domínio; desejo; necessidade; desígnio; capricho. Pode ser um capricho ter um desejo mas será uma necessidade cumprir um desígnio? Para que a vontade se cumpra temos de somar à intenção o ânimo. Quem ouviu à exaustão "Tu não tens quereres", arrisca-se a olhar o mundo e temer pelo futuro. Gente sem quereres gera dias sem objectivos.

Tuesday, March 06, 2007

Há vezes em que não apetecem palavras, só afagos.

Sunday, March 04, 2007

O vidro


Quando olhamos através de um vidro molhado
o mundo é cheio de pingos
Quando o vidro está embaciado
a realidade não tem formas definidas
Quando o vidro está partido
a realidade tem brilhos diferentes
Quando o vidro reflecte outra imagem
a realidade às vezes é mágica
outras é só incompreensível
Quando o vidro está sujo
o mundo fica baço
Quando o vidro é espelhado
o mundo inteiro somos só nós
Quando o vidro trava o vento,
o mundo voa
Quando o vidro ampara a chuva,
ficamos a ver o mundo chorar.

Friday, March 02, 2007

Sonhos improváveis
Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada. Mas o que sonha o possível tem a possibilidade real da verdadeira desilusão. Não me pode pesar muito o ter deixado de ser imperador romano, mas pode doer-me o nunca ter sequer falado à costureira que, cerca da nove horas, volta sempre a esquina da direita. O sonho que nos promete o impossível já nisso nos priva dele, mas o sonho que nos promete o possível intromete-se com a própria vida e delega nela a sua solução. Um vive exclusivo e independente; o outro submisso das contingências do que acontece.

Fernando Pessoa, in O Livro do Desassossego

This page is powered by Blogger. Isn't yours?