Tuesday, January 30, 2007
Thursday, January 25, 2007
"Acima de todas as raças de animais é colocado o homem, cuja mão destruidora não poupa nada do que é vivo: ele mata para se alimentar, mata para se vestir, mata para se enfeitar, mata para atacar, mata para se defender, mata para se divertir, mata para matar: rei soberbo e terrível, precisa de tudo e nada lhe resiste.
Joseph de Maistre, in As Noites de S. Petersburgo
Wednesday, January 24, 2007
e quando me cansar de ser
Tuesday, January 23, 2007
Há dias em que as gaivotas se juntam em bando no areal. Quietas, silenciosas a esperar o sol. Há dias em que o areal é um imenso mar de gaivotas paradas, estátuas bizarras que perderam a leveza e as asas.
Outros dias as gaivotas berram pelos céus, aborrecem-se ao sol nos telhados e sobrevoam as águas como quem está de partida.
Há dias em que o mar está vazio. Não tem gaivotas, nem pessoas, nem barcos, nem sol, nem céu que se chame azul. Nesses dias o mar é só espuma e barulho, grito e promessa.
Um dia destes, uma gaivota no areal espiava um surfista que se lançava numa onda. Tudo era único. Um, uma, um, uma... Só o mar parecia conter tudo.
Monday, January 22, 2007
Friday, January 19, 2007
Wednesday, January 17, 2007
Sunday, January 14, 2007
Vivo com dois animais em forma de gato. Um é um gato que não sabe que o é. O outro, uma gata que se vai habituando a deixar de o ser. Estudo o comportamento deles, como animais domesticados, e noto que todas as suas concessões têm a ver com coisas essenciais: Comida ou afecto...
Saturday, January 13, 2007
Não senhor escritor, não ouse chamar às galinhas seres esparvoados, mesmo que o senhor se chame Lobo Antunes e as galinhas, na sua maioria, não tenham nomes nem assinem livros.
No outro dia vi uma entrevista consigo
e deixe-me que lhe diga
que esse olhar disperso e vago
esse esparvoamento no gesto o detectei em si.
As galinhas são animais determinados nas coisas
que verdadeiramente lhe interessam
e essas - calhando - serão as mesmas
que o interessam a si.
Não, senhor doutor-escritor-menino
não estou a defender as galinhas
nem sequer a acusá-lo a si.
Gosto dos dois - sim, de si também
e muito - mas parece-me estranho
que você, logo você tão atento,
veja nas aves que debicam por aí
sinais de esparvoamento.
Thursday, January 11, 2007
Wednesday, January 10, 2007
Frédéric Vitoux
Sunday, January 07, 2007
Dou por mim a pensar que algumas imagens que aqui coloco serão, dentro em breve, uma recordação e um doce testemunho da beleza extinta do planeta.
Saturday, January 06, 2007
Os cientistas descobriram que todos os animais têm emoções e que são elas que ajudam a perpetuar as espécies. Um gato (ou cão, uma vaca, um porco, um melro, um elefante, uma galinha...) sentem emoções: estão felizes, tristes, impacientes, apreensivos, amorosos, odientos...sentem alegria, raiva, desespero, compaixão, agressividade...
Os cientistas perderam (e continuam a perder) imenso tempo para verificar isso. Os filósofos começam a perceber que o homem só pode responder à eterna pergunta: Quem sou? se souberam reconhecer a sua ligação aos animais e procurar saber Quem são Eles?. Esta semana um estudo publicado numa revista revela que os cães são parentes mais próximos dos homens do que os macacos. (A nível social, entenda-se: os cães interagem connosco facilmente, compreendem-nos à primeira).
Os cães, se perdessem um minuto com os resultados da humana ciência, uivariam de desespero com tão próximo parentesco. Afinal que animais podem querer ser parentes do homem, esse homem que no séc. XXI consegue:
- Condenar um outro homem à forca.
- Filmar a execução
- Difundi-la para todo o mundo
Entre garfadas de um jantar mais ou menos lauto, os homens viram outro homem a ser enforcado pelos seus crimes contra outros homens.
Já agora - pergunta o cão (o gato, a galinha, o elefante, a vaca, o porco, o melro) - quem vai depois enforcar quem enforcou esse homem? E depois os que enforcaram os carracos, e os outros e os outros.... e assim por diante até terem extinto a espécie de inteligência superior??? Ou não é assim que as coisas se passam???
Pobre cão, macaco, gato, melro, vaca, elefante, galinha, porco e tal... com primos destes...
Thursday, January 04, 2007
ser gente dificulta a existência
ser gente implica um vício estranho:
conjugar o verbo ser como se fosse dever-ser
ser gente implica incluir a culpa
Wednesday, January 03, 2007
Procuro no dicionário e na enciclopédia o que medo significa e reconheço que significa sempre menos do que aquilo que sentimos quando ele nos habita. O que nos trava os passos, o que nos corta a respiração e nos enche de pesadelos os sonhos é muito maior do que essa palavra pequena e o que ela significa na disciplina da semântica. O medo é a parte interior de nós, o medo somos nós virados do avesso a mostrar aos outros o que queremos esconder de nós. O medo é a mentira com a qual nos construímos para os outros e - mais grave ainda - para consumo interno. Ter medo é não se aceitar como projecto quotidiano, é sonhar-se como obra feita, indestrutível, imutável e eterna. O medo é o nosso orgulho disfarçado em fraqueza, é a nossa riqueza de apenas ser, encoberta pela tentação de ter. O medo sou eu quando me enuncio.
Tuesday, January 02, 2007
Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.
O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nossos membros lassos
A leve rapidez dos animais.
Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.
Sophia de Mello Breyner