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Sunday, November 26, 2006

Pacto possível


Paro um pouco a enrolar o meu cigarro (chove)
E vejo um gato branco à janela de um prédio bastante alto
Penso que a questão é esta: a gente
certa gente
sai para a rua,
cansa-se, morre todas as manhãs sem proveito nem glória
e há gatos brancos à janela de prédios bastante altos!
Contudo e já agora penso que os gatos são os únicos burgueses
com quem ainda é possível pactuar—
vêem com tal desprezo esta sociedade capitalista!
Servem-se dela, mas do alto, desdenhando-a ...
Não, a probabilidade do dinheiro ainda não estragou
inteiramente o gato mas de gato para cima—
nem pensar nisso é bom!
Propalam não sei que náusea, revira-se-me o estômago
só de olhar para eles!
São criaturas, é verdade, calcule-se, gente sensível
e às vezes boa mas tão recomplicada, tão bielo-cosida,
tão ininteligível que já conseguem chorar, com certa sinceridade, lágrimas cem por cento hipócritas.
Mário Cesariny
(que hoje morreu)

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