Tuesday, May 30, 2006
imaginemos a música do calor
o vibrante canto dos grilos
o restolhar do trigo
o chilreio dos pássaros
e o som agreste dos nossos passos no cascalho
fixemos o olhar lá longe
no azul cinza dos montes tão frágeis
e ajeitemos melhor o corpo
no sofá
Monday, May 29, 2006
a arte é o instrumento para transformar o individual no universal
Sunday, May 28, 2006
O segredo é mostrar o mundo como se tudo fosse fácil.
A dificuldade é o contrário da alegria.
Bernard Jeunet esculpe papel e com ele conta histórias. Não são precisas letras nem outros signos aprendidos. Basta olhar e os olhos vêem no papel a leveza dos dias. Matérial ductil, o papel empresta vida a tantos seres. Jeunet é o criador desse mundo de papel, o deus dos pequenos seres que vieram da árvore. A evolução da espécie...
Saturday, May 27, 2006
do Lat. inutile
adj. 2 gén.,
não útil, improfícuo;
desnecessário;
escusado;
sem préstimo;
frustrado, baldado;
incapaz, inábil.
adj. 2 gén.,
que serve para alguma coisa;
que pode ter algum uso ou serventia;
proveitoso;
vantajoso;
prestável;
determinado por lei de trabalho (dia);
s. m.,
utilidade;
aquilo que é útil.
Dei por mim a dizer que é o inútil que fica, que atravessa os tempos como um luz que rompe a escuridão.
Thursday, May 25, 2006
Wednesday, May 24, 2006
Às vezes as coisas realmente importantes, o que preenche a definição de bom, de belo, de fundamental, encontra-se nas margens do que nos querem fazer acreditar que é a vida.
Tuesday, May 23, 2006
Só perde o fio à meada,
só se esgota no pensamento,
quem se agarra à concreta equação dos dias.
Leves e livres,
como as gaivotas
como os pardais
como os raios de sol
que se passeiam, ilimitados, pelo brilho das águas,
as crianças e os animais
desenham na brisa os seus desígnios.
Não há sonho que lhes esteja vedado:
travar o eco da gargalhada no ar,
morder os raios de sol
escorregar pela poalha cintilante das estrelas
Friday, May 19, 2006
Pode ser um cubo
com um corte na diagonal
pode ser outra coisa qualquer...
Os olhos só vêem o que lhes ensinaram a ver.
Os olhos só vêem o que compreendem.
Felizmente o coração vê o resto.
Thursday, May 18, 2006
O que escondemos de nós para nos protegermos? O que optamos pôr na sombra e esperamos que ninguém veja? Porque exibimos na luz aquela parte de nós que gostaríamos que fosse o todo?
Acaso saberemos que esta visão parcelar só nos diminiu?
Um dia seremos as vítimas sofridas de mal-entendidos a que aos outros chegaram por só verem de nós as partes luminosas.
Tuesday, May 16, 2006
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?
Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.
Monday, May 15, 2006
Saturday, May 13, 2006
"A terra não pertence ao homem; é o homem que pertence à terra. O homem não teceu a trama da vida; ele é apenas um fio."
Em 1854 um chefe índio escreveu uma carta ao presidente dos Estados Unidos recusando a proposta deste para comprar grande parte das terras da sua tribo. Eis alguns extractos:
O grande chefe de Washington mandou fazer-nos saber com palavras de boa vontade que nos quer comprar as terras. Muito agradecemos a sua atenção pois sabemos demasiado bem a pouca falta que lhe faz a nossa amizade. ... Mas como podeis comprar ou vender o céu ou o calor da terra? Esta ideia parece-nos estranha. Nem a frescura do ar nem o brilho das águas nos pertencem. Como poderiam ser comprados? Devíeis saber que cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. A folha verde, a praia arenosa, a neblina do bosque, o amanhecer entre as árvores, os pardos insectos... são experiências sagradas e memórias dos peles-vermelhas. ... As encosta escarpadas, os prados humidos, o calor do corpo do cavalo e do homem, todos pertencem à mesma família. A água cristalina que corre pelos rios e ribeiros não é somente água, também representa o sangue dos nossos antepassados. Se vo-la vendêsemos teríeis de recordar que é sagrada e ensiná-lo aos vosso filhos. Também os rios são nosso irmãos porque nos libertam da sede, arrastam as nossas canoas, procuram-nos os peixes. E além do mais, cada reflexo nas claras águas dos lagos relata histórias e memórias das vidas das nossas gentes; o múrmúrio da água é a voz do pai do meu pai. ... Talvez porque somos selvagens não podemos entender. Não há um único lugar tranquilo nas cidades do hemem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desenrolar das folhas ou o rumor das asas de um insecto na primavera. Talvez seja prque sou um selvagem e não compreendo bem as coisas. O barulho da cidade é um insulto para o ouvido ... Se decidisse a aceitar a vossa oferta teria de vos sujeitar a uma condição: que o homem branco considere os animais desta terra como irmãos. Sou selvagem e não compreendo outra forma de vida.Tenho visto milhares de búfalos a apodecer , abandonados nas pradarias, mortos a tiro pelo homem branco que dispara de um comboio que passa. Sou selvagm e não comprreendo como uma máquina fumegante pode ser mais importante que o búfalo, o qual apenas matamos para sobreviver.O que é o homem sem os animais? Se os animais morressem o homem morreria de uma grande solidão. Tudo o que acontece aos animais acontecerá também ao homem brevemente. Todas as coisas estão ligadas....
Friday, May 12, 2006
Bonnard integrou um gupo artístico chamado Nabis, que em hebraico quer dizer Profetas.
Thursday, May 11, 2006
Há algures um lugar onde eu serei o dente do leão
Wednesday, May 10, 2006
Tuesday, May 09, 2006
A luz trémula
chega até mim,
amarelada, fixa
chamo-lhe estrela
e durmo ao seu lado
o sono que me transporta ao tempo
antes de Ser
onde era tudo escuridão
e Paz.
Monday, May 08, 2006
Esta é uma noite para me lembrar
Que há qualquer coisa infinita como o firmamento
Um sorriso, um abraço
Que transcende o tempo
E ter medo como dantes
De acordar a meio da noite
A precisar de um regaço
Mafalda Veiga
Quando somos assaltados
pela finitude dos nossos afectos
quando acordamos sós num mundo
onde já houve regaços e afagos
quando os papéis se invertem
e os filhos passam a pais
de pais
tudo parece tão próximo do caos.
É nessa altura que a poesia,
vindo do mais inesperado lugar,
se instala e nos dá
de novo
a receita da felicidade.
*
Pequeno poema
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...
Sebastião da Gama
Sunday, May 07, 2006
Os gatos que se alimentam de letras também engordam.
Saturday, May 06, 2006
Primeiro pinte uma gaiola com a porta aberta
Jacques Prévert
Friday, May 05, 2006
- Ai tão lindos!!! Foi o senhor que os pescou?
...
- Lindos, estão mesmo frescos. Eu dantes gostava muito de cachuchos.. Ai o que eu gostava daquilo. De lhes chupar as cabeças... Mas agora parece que já não há disso.
- Ainda há, mas já se vê menos.
- Gostava tanto de cachuchos. E aí nesse saco? Ah! Sapateiras?
- Vieram agora do barco. Ainda estão vivas..
- Ai tão lindas. Pois tão, tão vivas... Lindas que são.São boas as sapateiras.
- Isto é bom para quem bebe. Eu cá como não bebo, como mas....
- Pois, a gente come mas, como não bebe, não sabe tão bem.
- É quase como um entretém.
- Isso... Pois é... Vão vivas para a panela?
- Não.
- Mas no outro dia ouvi dizer que devia ser assim.
- Nahhh! Tá a ver aqui este sítio? A gente com uma colher pequena fura aqui e mete vinagre. Ela depois morre.
- Ai é?
- E fica melhor... Fica mais rija e não perde as patas nem nada.
- Olhe não sabia...
(parte de uma conversa entre um pescador e uma senhora hoje em Cascais)
Imaginemos agora outra conversa.
Esta:
- Ai que lindos, tão rosadinhos e que olhos tão azuis. Têm que idade?
- Seis meses.
- Ai estão quase na hora de irem para o tacho. Eu gosto muito de bebés.
- Quem não gosta? O médico é que me diz para ter cuidado.
- Pois é, às vezes caiem mal...
- No meu caso é a vesícula.
- Eu felizmente ainda não me queixo. Ainda na quinta-feira levei dois para casa e estavam óptimos.
- Não tenho encontrado bons. Os que vejo não sabem a nada.
- É desta mania de os alimentarem a leite em pó.
- E depois ficam sem sabor nenhum..
- Pois é...
E assim, PERCEBE-SE?????
Wednesday, May 03, 2006
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de abraçar e tempo de afastar-se; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz.
Eclesiastes, 3
Tuesday, May 02, 2006
Quanto custa ser assim?
O que é preciso saber para enviar no olhar a ternura?
NB: A ternura perde-se nos olhares distraídos, fixa-se nos que dela precisam e dobra quando bate em olhos que a reconhecem.
Monday, May 01, 2006
Nos dias de sol as teias de aranha brilham de forma diferente.
Uma aranha diligente conseguiu de uma noite para um dia ligar tudo o que habita um terraço quente. Fê-lo com tal afã, com tal energia que no dia seguinte tudo estava ligado. Fiquei a olhar aquela teia irregular, aquela diáfana conexão, durante muito tempo. Estava tudo linkado a tudo. Mesmo sem forma de teia, mesmo sem forma regular, aquela profusão de fios mantinha-se num contacto estreito com tudo o resto. Se a brisa soprava, todo o emaranhado de fios, e as folhas onde estes pegavam, se agitavam num frémito diferente.
De repente uma poeira caiu sobre um dos fios, ali, preciso na queda, mas toda a ligação tremeu. E eu vi nisso, o universo.